domingo, 24 de maio de 2009

*** Continuação

Ele assoviava.
Era um mal sinal. Na verdade era um bom sinal, ele estava feliz. Mas para ela era um mal sinal, um péssimo sinal.
Ela iria deixá-lo. Fato. A ideia inicial era ir embora no meio da noite, ainda de madrugada, deixar um bilhete: "tudo é eterno enquanto dura." totalmente clichê; e sumir, embora soubesse que não seria para sempre. Afinal nada é para sempre. Ela não iria longe, ele também não, provavelmente iriam se cruzar sempre.
Ela continuava parada, observando, contemplando a foto perfeita. O sol que entrava pela janela ia mudando de posição, em alguns minutos a iluminação se perderia, aquele momento passaria.
Um turbilhão de pensamentos a consumiam, a pia, a louça, o assovio.
Ele lá a mesma posição, Ela tinha certeza que era o momento, era a foto. A câmera. No quarto, sob a bancada.
Ela olha pelo corredor, calcula mentalmente os passos, o tempo que vai gastar para alcançar a câmera. Dois cliques, nada mais. E a foto perfeita. Com a iluminação perfeita, o modelo perfeito, a situação perfeita.
Ela à porta, Ele assoviando e lavando.
Ela respira fundo e sai pelo corredor, passos leves, para não chamar a atenção dele. Ele continua assoviando. O quarto, a cama, a câmera. Ela pega, volta pelo corredor, e novamente respira fundo, Ele ainda está lá, o sol, a pia, a louça, o assovio. Ela posiciona a câmera, como um atirador posiciona a arma, se fosse uma arma sua câmera seria uma Ak-47. Posicionada ela prende a respiração, concentra-se e com sua Canon SLR EOS 40D, dois cliques depois Ele se vira, Ela continua, como se fosse Ela o atirador e Ele a vítima, ela dispara contra Ele e Ele tenta se esconder... Ela entra pela cozinha, a iluminação não importa mais, é o seu trabalho, fotografar, e o dele também, deixar-se fotografar, afinal, era um modelo, ou melhor, era O modelo. Ela avança, Ele ri e a alcança. Ela respira, Ele ri, e a segura pelo braço, e a olha profundamente como sempre, sorte a dela de conseguir se apoiar à porta.
Eles ali, tão próximos, Ela segura a arma e Ele a segura pelo punho. Eles riem e Ele a beija.
Depois do beijo, quente e verdadeiro Ele fala.
- Você e essa câmera, siamesas? Ele pergunta andando rumo à mesa e a olhando nos olhos.
Característica dele, sempre fala forte e olha nos olhos. Coisa de pessoa insegura, com Síndrome de Peter Pan. - Não se separam nunca.
- Ossos do ofício honey!!! Ela fala dirigindo-se à geladeira.


***Continua