sábado, 23 de fevereiro de 2008

E a Luz?

Um dia ouviu-se: "Faça-se a luz."
E a luz se fez.
O primeiro contato do ser humano com a luz é o choro.
Mas quando a luz se vai?Qual será a reação?
Soa injusto dizer que quem morreu descansou.
Descansou de quê?
E se a pessoa não estiver a fim de descansar!?
E se ela ainda não estiver cansada?
Ela simplesmente se vai, e acaba?
Acaba como acaba o sabor do chocolate comprado com os míseros trocados no bolso?
Acaba como o dia, no pôr do sol?
E a luz?
De olhos fechados, no escuro, num vazio?
E os bolos que não serão mais feitos?
E as cartas inacabadas na gaveta?
Os amores que não serão vividos, os filhos que não nascerão?
Os filmes que não foram vistos, os "bons dias" que não foram ditos?
As roupas que ainda não foram usadas?
Os segredos na gaveta no fudo do guarda-roupas?
E as forças de expressão, inventadas, copiadas, renovadas?
Os cursos que não foram feitos, os livros não lidos, o livro que estava para ser terminado?
O que será do Orkut?
Quem vai ler os e-mails?
As fotos na máquina?
O que será feito do projeto ultra-secreto que vai mudar a vida de milhares de pessoas?
E a orquídea?
O violão?
Descansar pra quê?
Os bons morrem jovens?
O que será do mundo sem os bons?
O que será do mundo sem os jovens?
E a viagem?
E Paris?
Tudo vai ser como era antes?
E o sol?
E o U2?
As poesias que não foram escritas?
Os sonhos que não foram sonhados?
Isso é justiça?
Os bons morrem jovens?
E os maus?Não morrem?
E a luz?
O que será da luz?

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Insônia

Ela vê a chuva pela janela, é tarde e a chuva chove, sem parar desde cedo.
A chuva sempre a deixa abafada, esse é o termo que melhor a representa.
Ela já leu tudo o que tinha para ler, ouviu tudo o que tinha para ouvir e pensou tudo o que tinha para pensar. Então ela dormiu.
Ela acorda e o barulho da chuva ainda a cair, a transtorna, pelo reflexo provável do poste mais próximo ela observa as gotas a escorrem pelo vidro na parede.
Ela olha o relógio, ainda não são duas horas, para seu desespero, porque a partir deste momento ela sabia que para dormir de novo ia custar muitos incontáveis carneirinhos, embora ela sempre contasse Johnnys Depp e Brads Pitt.
Enfim levanta e vai até a cozinha, lá está o vazio de sempre.
Ele era um idiota, um bossal, não passava de um fracassado psicossomático mais naquele momento sua presença seria boa, nem que seja para uma briga. Um bate-boca daqueles memoráveis porque mesmo sendo um idiota-bossal–fracassado ele era o sarcasmo em pessoa, todas as brigas eram um duelo de egos, alter-egos e super-egos e coisa e tal.
Mais ele não estava mais ali. Podia ligar, mais depois de tanto tempo? Seu orgulho não permitiu tal burrice e ela voltou para cama, usou a chuva como tortura e molde para seu humor no dia seguinte.