terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

À um certo alguém

Por entre carros e árvores, pessoas e flores, sol e chuva, a brisa cessou e eu vi você.
Você alto, sério, com fones de ouvido, longe de tudo, do mudo, de todos, perdido na multidão. Jeans desbotado, camisa verde, cabeça raspada, ar despojado de quem não se importava com nada.
À primeira vista apenas mais um, a passar por mim naquela tarde. Era mais um, porém, era diferente. Talvez a frase na camisa: “ A liberdade é o oxigênio da alma.” tenha me chamado a atenção devido minha admiração secreta por Woody Allen.
Conhecemos realmente a liberdade?
Conhecemos realmente a nossa alma?
Eu lia sua camiseta enquanto você se aproximava. Quando dei por mim você já havia passado. Olhei instintivamente para trás. Coincidência ou não você estava olhando também, (lembra?) cheguei a parar minha caminhada. Você tímido, somente sorriu e continuou.
Algo que não sei explicar inquietou minha mente, queria ao menos saber seu nome, qual a cor dos seus olhos, ler seu pensamento.
Continuei inquieta meu caminho, você, o seu.
O tempo passou você parecia um sonho, cheguei até a esquecer, e, de repente; numa noite, em meio a uma multidão, som, barulho e fumaça, você apareceu.
A inquietação voltou, porém, agora, você não mais se afastava de mim. Pelo contrário, você se aproximava, olhava firmamente nos meus olhos, com seus olhos (e que olhos!) profundos e verdes.
Eram verdes!
Parado na minha frente, por uma fração de segundo me perdi, o que estava acontecendo?
Era estranho, doído e indescritível. Você ali, olhando para mim. Ante tantas num mesmo lugar, você ali, logo ali. Era surreal!
Por instantes tive o impulso de fugir, usando a tática infalível do banheiro, mais você estava ali, parado a me olhar. Penetrava em minha’lma, parecia fazer uma minuciosa avaliação do meu estado de espírito, dos meus sinais vitais.
Até que... você falou (gritou!) algo que não pude compreender, me pegou pelo braço e me levou daquele tumulto. Foram o que?, 30 segundos, isso. Foram os 30 segundos mais incômodos da minha vida. Digo incômodos porque eu não sabia o que estava realmente acontecendo.
Foram 30 segundos, passo ante passo, gente se esbarrando, fumaça, música (barulho), sua pressa, Tum Tum...uma leve vertigem tomou conta de mim; podia ser o uísque com energético, que há muito já havia descido e estava descendo e que ainda não havia subido; você andava rápido, pessoas entre nós, sua mão fria e úmida, tesa, me puxava; gente, passo, barulho, Tum Tum..., escuro, vertigem, degrau e...
Trans-cen-di!
Transcendi. Por instantes um silêncio contrastante com a algazarra lá de dentro, a luz natural do lado de fora. Pessoas conversavam alto, vertigem, outras riam, vomitavam, beijavam-se e uma leve brisa me despertara e me devolvia a real noção do espaço.
A vertigem persistia, procurava seus olhos, foi quando ouvi pela primeira vez:
- Que loucura!!!
Você olhava pra mim, jeans claro (de novo!), camisa branca com estampa do Obama a La Che.
Eu, copo na mão, bolsa idem, respirei fundo, concordando com a cabeça, dando mais uma golada no meu uísque com energético e (ergh!!!) faltava gelo.
- Te achei! você disse. Foi difícil, passei por aquele caminho várias vezes, várias, no mesmo horário e não mais te vi.
Você falava desordenadamente, mas, com um tom de voz paradoxalmente pausado, incrível. Eu me curava da vertigem momentânea e me inquietava estranhamente enquanto você se desdobrava em palavras das quais ouvi essas:
- Preciso confessar que absurdamente você me... sei lá... menina. Você me inquietou. Isso você me inquietou!
Te inquietei, ali naquele momento, você me ganhou, ( ganhou, porque poderia ser um clichê completo se você tivesse utilizado outra palavra qualquer: ‘ você me enfeitiçou –clichê!’; ‘ você me hipnotizou – clichê2!’; ‘ você me seduziu – idem.’.) mas você disse: “ Você me inquietou!”
Não acreditando no que mus ouvidos, regados a uísque e energético (eu sei que já disse isso!) insistiam em ouvir, você se lembra? eu te olhei e disse:
- Ahã!?
Tenho certeza de que você me achou a maior idiota do mundo, não!?
Daí você repetiu e continuou:
- Você absurdamente me inquietou. Hoje quando eu vi você entrar, cara! Tive certeza de que não podia perder essa oportunidade. Caramba!!! Tem duas horas e vinte e sete minutos (você disse olhando para o relógio) que eu estou esperando aquele cara se afastar de você, nossa ele é muito chiclete, fala sério, como ele consegue beber e não ir ao banheiro? Fala sério!!!
Fala sério!!! Naquele momento transcendi de novo, o Rafa estava lá dentro, mas onde? E eu lá fora, com você, daí eu:
- Loucura, mesmo! To fu....literalmente.
Você riu ( que sorriso!) e eu descobri ali que não importava se será certo ou errado, se era bom ou ruim, descobri apenas que era válido, valia a pena.
- Raul. E não precisa vir com essa de ‘ O prazer é meu’, viu, porque agora, todo o prazer do mundo é meu!
- Prazer Ma.........
- Eu já sei.
- Louco!
-Tá valendo! você disse desviando o olhar dos meus olhos pela primeira vez, me deu seu celular, beijou minha mão e falou:
- Eu te ligo!!! piscou e saiu correndo.
Lá vinha ele, Rafael, apressado, zangado e me cobrando uma explicação com o olhar.
Guardei o celular na bolsa, olhei nos olhos dele e antes de qualquer reação:
- Preciso ir pra casa, coração.
- Que foi não tá bem?
- Não.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

...

Quero alguém sol
Que assim como o sol aquece, colore, dá vida
Quero alguém verão
Que desnuda, transpira, excita
Quero alguém lua
Que clareia, brilha, transforma


Quero alguém mesmo, que seja estação
Um dia verão
Outro inverno
Um dia folha ao chão
No outro cor
Primavera


Quero ser flor
Bela
Amarela
Quero outono cor, chão
De dia sol clareia
À noite lua cheia
Pode até ser chuva, terra molhada, mormaço
Trovão


O céu estrela, lua
Hoje, agora, sempre
Pode ser outro planeta

Desde que seja Saturno.