sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Chove

Chove
E eu não quero ouvir o que sempre ouço
Essas palavras belas, esses elogios tolos, tudo o que você acha que eu gostaria de ouvir
Essas palavras que saem da sua boca pouco importam
Palavras são somente palavras
Quero sentir

Quero sinceridade não somente em palavras
Quero atos, toques, pele
Quero a única certeza: a do momento
Não quero promessas
Tampouco confidências

Quero o olhar
Quero ouvir Linger sem me preocupar com o tempo
Escrever sem me preocupar com a nova regra da língua portuguesa
Sem a responsabilidade da poesia, ou da dissertação
Quero sonetos
Palavras soltas numa folha, nas paredes ou mesmo no chão

Quero sair por aí sem rumo
sem prumo, sem celular
Sem razão
Quero ouvir de você somente a respiração
Quero o vidro embaçado
A chuva lá fora

Quero...
Você

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Oi,
Embora eu acredite que ninguém leia esse blog, vou fazer dele um caderno de publicações minhas, postarei coisas encontradas dentro de uma caixa no fundo do guarda-roupas. Textos, não podem ser chamados de textos.
Ok! Escritos, de diversas fases da minha vida. Coisas que escrevi, pasmem, até em guardanapos durante lanches da época do cursinho. E olha que já sou uma farmacêutica- bioquímmica graduada. Portanto, nada demais, apenas momentos de sei lá desabafos momentâneos e inacabados.


Começa agora:

* Sem data, já que não tenho por hábito datar meus dias.

Como descrever um sentimento que não parece sentimento...
Uma coisa que não se sabe o que é? Somente é sabido que está ali. Vive ali. De vez em quando some, depois aparece. Mais está ali, por ali, assombrando.
Chamo sentimento por não conhecer uma palavra melhor para conceituar isso.
Sentimento: Ato ou efeito de sentir. Sensibilidade. Disposição afetiva em relação a coisas de ordem moral ou intelectual. Afeto, amor. Tristeza, pesar.
Assim é conceito de sentimento pelo dicionário. Por isso chamo sentimento.
Sentimentos: Qualidades morais. Deveria ser: qualidades mortais.Todo mortal deriva de sentimentos.
E o resumo de tudo é sentimento.
Tudo é sentir.
Ver é sentir.
Falar é sentir.
Tocar é sentir.
Sentir é sentir.
Resumo: tudo é sentir.

*** Texto encontrado nas empoeiradas entranhas cerebrais de alguém vulnerável.

domingo, 24 de maio de 2009

*** Continuação

Ele assoviava.
Era um mal sinal. Na verdade era um bom sinal, ele estava feliz. Mas para ela era um mal sinal, um péssimo sinal.
Ela iria deixá-lo. Fato. A ideia inicial era ir embora no meio da noite, ainda de madrugada, deixar um bilhete: "tudo é eterno enquanto dura." totalmente clichê; e sumir, embora soubesse que não seria para sempre. Afinal nada é para sempre. Ela não iria longe, ele também não, provavelmente iriam se cruzar sempre.
Ela continuava parada, observando, contemplando a foto perfeita. O sol que entrava pela janela ia mudando de posição, em alguns minutos a iluminação se perderia, aquele momento passaria.
Um turbilhão de pensamentos a consumiam, a pia, a louça, o assovio.
Ele lá a mesma posição, Ela tinha certeza que era o momento, era a foto. A câmera. No quarto, sob a bancada.
Ela olha pelo corredor, calcula mentalmente os passos, o tempo que vai gastar para alcançar a câmera. Dois cliques, nada mais. E a foto perfeita. Com a iluminação perfeita, o modelo perfeito, a situação perfeita.
Ela à porta, Ele assoviando e lavando.
Ela respira fundo e sai pelo corredor, passos leves, para não chamar a atenção dele. Ele continua assoviando. O quarto, a cama, a câmera. Ela pega, volta pelo corredor, e novamente respira fundo, Ele ainda está lá, o sol, a pia, a louça, o assovio. Ela posiciona a câmera, como um atirador posiciona a arma, se fosse uma arma sua câmera seria uma Ak-47. Posicionada ela prende a respiração, concentra-se e com sua Canon SLR EOS 40D, dois cliques depois Ele se vira, Ela continua, como se fosse Ela o atirador e Ele a vítima, ela dispara contra Ele e Ele tenta se esconder... Ela entra pela cozinha, a iluminação não importa mais, é o seu trabalho, fotografar, e o dele também, deixar-se fotografar, afinal, era um modelo, ou melhor, era O modelo. Ela avança, Ele ri e a alcança. Ela respira, Ele ri, e a segura pelo braço, e a olha profundamente como sempre, sorte a dela de conseguir se apoiar à porta.
Eles ali, tão próximos, Ela segura a arma e Ele a segura pelo punho. Eles riem e Ele a beija.
Depois do beijo, quente e verdadeiro Ele fala.
- Você e essa câmera, siamesas? Ele pergunta andando rumo à mesa e a olhando nos olhos.
Característica dele, sempre fala forte e olha nos olhos. Coisa de pessoa insegura, com Síndrome de Peter Pan. - Não se separam nunca.
- Ossos do ofício honey!!! Ela fala dirigindo-se à geladeira.


***Continua

sábado, 23 de maio de 2009

O modelo à pia.

Encostada à porta ela observava os movimentos dele à pia.
Era de manhã, o sol iluminava parte da cozinha e dava uma luz perfeita à cena. Cabia ali uma foto, e que foto.
A câmera estava no quarto sob a bancada, apenas alguns passos, não seria necessário utilizar o flash. Mas a imagem a prendia ali. A visão era bela. E ela entendia muito bem o que era e o que não era belo.
Ele de costas, de pé, moreno, as costas tesas, bem desenhada, cabelo baixo, quase um corte militar dava-lhe um ar casual e ao mesmo tempo sério. Samba-canção azul clara, cadê a box branca?, ficaria melhor, pelo menos Ela sempre pensou que seria uma box branca, ficaria melhor.
Não, não ficaria, a samba-canção ficou simples, básica, sexy. Não, Não é um conto erótico!
O pé direito apoiava-se soba canea da perna esquerda., que sustentava o corpo todo, apoiado á pia. O sol alcançava-lhe os pés. Ele assoviava enquanto lavava a louça e o cheiro do café aromatizava a cozinha.




***Continua.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Palavrear

Queria ter o dom de palavrear, de ousar com as palavras.
Florir com elas folhas em branco, traduzir conjuntos de palavras em emoções e com isso transformar letras em frases, assim como os músicos transformam notas em melodias.
Não sei escrever com palavras o que sou capaz de escrever com o olhar.
Pensamentos até serem transcritos, perdem-se em palavras soltas que diante a tentativa de tornarem-se um significado, esvaem-se, e apenas formam desvarios.
Desvarios estes que tento, mas não consigo, descrever, nem abstrair.
Daí escrevo, pouco, o que vem e atormenta minh’alma.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

À um certo alguém

Por entre carros e árvores, pessoas e flores, sol e chuva, a brisa cessou e eu vi você.
Você alto, sério, com fones de ouvido, longe de tudo, do mudo, de todos, perdido na multidão. Jeans desbotado, camisa verde, cabeça raspada, ar despojado de quem não se importava com nada.
À primeira vista apenas mais um, a passar por mim naquela tarde. Era mais um, porém, era diferente. Talvez a frase na camisa: “ A liberdade é o oxigênio da alma.” tenha me chamado a atenção devido minha admiração secreta por Woody Allen.
Conhecemos realmente a liberdade?
Conhecemos realmente a nossa alma?
Eu lia sua camiseta enquanto você se aproximava. Quando dei por mim você já havia passado. Olhei instintivamente para trás. Coincidência ou não você estava olhando também, (lembra?) cheguei a parar minha caminhada. Você tímido, somente sorriu e continuou.
Algo que não sei explicar inquietou minha mente, queria ao menos saber seu nome, qual a cor dos seus olhos, ler seu pensamento.
Continuei inquieta meu caminho, você, o seu.
O tempo passou você parecia um sonho, cheguei até a esquecer, e, de repente; numa noite, em meio a uma multidão, som, barulho e fumaça, você apareceu.
A inquietação voltou, porém, agora, você não mais se afastava de mim. Pelo contrário, você se aproximava, olhava firmamente nos meus olhos, com seus olhos (e que olhos!) profundos e verdes.
Eram verdes!
Parado na minha frente, por uma fração de segundo me perdi, o que estava acontecendo?
Era estranho, doído e indescritível. Você ali, olhando para mim. Ante tantas num mesmo lugar, você ali, logo ali. Era surreal!
Por instantes tive o impulso de fugir, usando a tática infalível do banheiro, mais você estava ali, parado a me olhar. Penetrava em minha’lma, parecia fazer uma minuciosa avaliação do meu estado de espírito, dos meus sinais vitais.
Até que... você falou (gritou!) algo que não pude compreender, me pegou pelo braço e me levou daquele tumulto. Foram o que?, 30 segundos, isso. Foram os 30 segundos mais incômodos da minha vida. Digo incômodos porque eu não sabia o que estava realmente acontecendo.
Foram 30 segundos, passo ante passo, gente se esbarrando, fumaça, música (barulho), sua pressa, Tum Tum...uma leve vertigem tomou conta de mim; podia ser o uísque com energético, que há muito já havia descido e estava descendo e que ainda não havia subido; você andava rápido, pessoas entre nós, sua mão fria e úmida, tesa, me puxava; gente, passo, barulho, Tum Tum..., escuro, vertigem, degrau e...
Trans-cen-di!
Transcendi. Por instantes um silêncio contrastante com a algazarra lá de dentro, a luz natural do lado de fora. Pessoas conversavam alto, vertigem, outras riam, vomitavam, beijavam-se e uma leve brisa me despertara e me devolvia a real noção do espaço.
A vertigem persistia, procurava seus olhos, foi quando ouvi pela primeira vez:
- Que loucura!!!
Você olhava pra mim, jeans claro (de novo!), camisa branca com estampa do Obama a La Che.
Eu, copo na mão, bolsa idem, respirei fundo, concordando com a cabeça, dando mais uma golada no meu uísque com energético e (ergh!!!) faltava gelo.
- Te achei! você disse. Foi difícil, passei por aquele caminho várias vezes, várias, no mesmo horário e não mais te vi.
Você falava desordenadamente, mas, com um tom de voz paradoxalmente pausado, incrível. Eu me curava da vertigem momentânea e me inquietava estranhamente enquanto você se desdobrava em palavras das quais ouvi essas:
- Preciso confessar que absurdamente você me... sei lá... menina. Você me inquietou. Isso você me inquietou!
Te inquietei, ali naquele momento, você me ganhou, ( ganhou, porque poderia ser um clichê completo se você tivesse utilizado outra palavra qualquer: ‘ você me enfeitiçou –clichê!’; ‘ você me hipnotizou – clichê2!’; ‘ você me seduziu – idem.’.) mas você disse: “ Você me inquietou!”
Não acreditando no que mus ouvidos, regados a uísque e energético (eu sei que já disse isso!) insistiam em ouvir, você se lembra? eu te olhei e disse:
- Ahã!?
Tenho certeza de que você me achou a maior idiota do mundo, não!?
Daí você repetiu e continuou:
- Você absurdamente me inquietou. Hoje quando eu vi você entrar, cara! Tive certeza de que não podia perder essa oportunidade. Caramba!!! Tem duas horas e vinte e sete minutos (você disse olhando para o relógio) que eu estou esperando aquele cara se afastar de você, nossa ele é muito chiclete, fala sério, como ele consegue beber e não ir ao banheiro? Fala sério!!!
Fala sério!!! Naquele momento transcendi de novo, o Rafa estava lá dentro, mas onde? E eu lá fora, com você, daí eu:
- Loucura, mesmo! To fu....literalmente.
Você riu ( que sorriso!) e eu descobri ali que não importava se será certo ou errado, se era bom ou ruim, descobri apenas que era válido, valia a pena.
- Raul. E não precisa vir com essa de ‘ O prazer é meu’, viu, porque agora, todo o prazer do mundo é meu!
- Prazer Ma.........
- Eu já sei.
- Louco!
-Tá valendo! você disse desviando o olhar dos meus olhos pela primeira vez, me deu seu celular, beijou minha mão e falou:
- Eu te ligo!!! piscou e saiu correndo.
Lá vinha ele, Rafael, apressado, zangado e me cobrando uma explicação com o olhar.
Guardei o celular na bolsa, olhei nos olhos dele e antes de qualquer reação:
- Preciso ir pra casa, coração.
- Que foi não tá bem?
- Não.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

...

Quero alguém sol
Que assim como o sol aquece, colore, dá vida
Quero alguém verão
Que desnuda, transpira, excita
Quero alguém lua
Que clareia, brilha, transforma


Quero alguém mesmo, que seja estação
Um dia verão
Outro inverno
Um dia folha ao chão
No outro cor
Primavera


Quero ser flor
Bela
Amarela
Quero outono cor, chão
De dia sol clareia
À noite lua cheia
Pode até ser chuva, terra molhada, mormaço
Trovão


O céu estrela, lua
Hoje, agora, sempre
Pode ser outro planeta

Desde que seja Saturno.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

W.Allen " A liberdade..."

Esperei por tanto tempo
Não sabia quando ia chegar
O que iria estar vestindo
O que eu ia usar

Poderia ser de dia
Ou talvez á noite
Tanto faz se fosse à tarde
O que importa era que fosse

E você chegou
Camiseta e calça jeans
( Era o que eu queria)

Pra mim você olhou
Você ficou
Vestido azul e sandália também
Foi pra mim que você olhou

Na camiseta aquela frase
Do Woody Allen eu lembrei
" A liberdade é o oxigênio da alma."
Inconscientemente você sabia do que eu ia gostar

Liberdade era a fantasia
Sobre o tempo eu queria ordenar
Naquele instante ele pararia
Para o seu olhar eu fotografar

Porque parou quando olhou
Para mim o tempo parou.